quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dias 19 e 20. (Desabafo)

Dois dias, duas sensações, inúmeras emoções...
Ontem, logo ao amanhecer, corri para ajeitar as minhas coisas.
Preparei a mochila, verifiquei baterias, cartões de memória, pilhas...
Check-list...Tudo OK!
Partimos para São Paulo por volta de umas 16 horas.
Lá encontramos um pequeno movimento que parecia não desistir do Brasil.
Tudo bem, a tarifa já havia sido conquistada, mas, a propósito, não são apenas os vinte centavos.
Fizemos por cerca de três horas ou até mais, uma caminhada de uma ponta a outra da Avenida Paulista pelo menos umas dez vezes.
Em nenhum momento houve um voluntário a quebrar as regras da civilidade e cometer qualquer ato de injúria contra qualquer coisa que estivesse pela frente.
Os gritos eram diversos, porém um, apenas um, me chamou a atenção.
"Que coincidência, não tem polícia, não tem violência..."
Fiz as minhas fotos, registrei os momentos que eu pensava que deveria ter registrado.
E, após alguns momentos, para não deixar de ser o que eu sempre fui.
Me uni aos gritos, me uni aos manifestos.
Gritei, parei trânsito. Sou assim. É parte integrante da minha alma lutar por o que é certo.
Voltei para casa com a alma lavada, mas sabendo que era só um dia entre tantos outros que virão.
Não consegui dormir.
Varei a noite estudando, lendo, pesquisando, ...
Vi o dia amanhecer e um aperto forte me veio ao peito.
Lia em declarações de amigos que o dia da cidade de Salvador parar era aquele.
A cada comentário uma preocupação a mais.
Acreditem, estar longe é muito pior do que estar entre bombas e balas de borracha.
Imaginar os momentos de medo e desespero.
Eu fechava os olhos e enxergava a reação de cada um de vocês.
Conforme passava o tempo a angústia era maior...
Eu queria notícias. Eu queria saber que todos estavam bem.
Eu queria a certeza de que ninguém havia se ferido.
Me preocupava com cada um de vocês e me preocupava também com cada um dos que eu não conheço.
Ver tudo pela internet. Ao vivo. Eu ficava com olhos fixos em cada movimento de cada pessoa.
E o sentimento de ódio aflorando cada vez que uma bomba explodia, cada momento que um daqueles soldadinhos de chumbo apontavam suas armas para vocês.
Eu sei que são tempos de mudanças e que os acontecimentos de hoje provavelmente se repetirão em outros dias.
Em um momento reconheci um amigo, fotógrafo, passando na frente da câmera, o vi bem, cumprindo o seu papel. Por alguns segundos o peito se encheu de orgulho.
Mas em questão de segundos a revolta tomou conta novamente de mim.
E ainda estou.
Sinto revolta por saber que muitos estão lutando por algo que é de direito nosso e que grande parte das pessoas que não pensa em se instruir os chamam de vândalos, de agressores, de baderneiros (concordo que existam todos esses, porém são casos muito mais isolados do que parece).
Sinto revolta por estar longe e não poder me unir aos meus irmãos, amigos, cúmplices.
Sinto revolta por ver e saber que tanta coisa que está errada está ai para que todos vejam e as pessoas continuam se fingindo de cegas.
Aos meus amigos, que vocês não abaixem as cabeças, que continuemos juntos a lutar, uma hora há de se mudar, uma hora tudo isso terá valido a pena.
Obrigado por me encherem de orgulho mesmo que com ele venha toda a preocupação que senti.
Como diria um poeta e que ficou eternizado para mim na voz de um irmão poeta: "Coragem, Coragem, Coragem!"
Vos amo.